“Antijurídica e antissocial”, diz Dallari sobre redução da maioridade

Belém (PA) – Uma audiência pública sobre a redução da maioridade penal no Brasil fechou o segundo dia da VI Conferência Internacional de Direitos Humanos da OAB. Alberto Antonio de Albuquerque Campos presidiu a atividade, que foi secretariada por Eduardo Imbiriba de Castro. A palestra ficou a cargo do jurista Dalmo Dallari. Antes de iniciar a apresentação, uma faixa com os dizeres “Somos contra a redução da maioridade penal” foi estendida em frente ao palco, fato acompanhado de muitos aplausos por parte da plateia. “Esta redução (da maioridade penal) trata-se de uma proposta absurda”, começou Dallari. “Uma garantia constitucional vem sendo ameaçada por uma Proposta de Emenda à Constituição que pretende diminuir de 18 para 16 a idade mínima para a imputação de penas. Devo lembrar que os 18 anos são marca praticamente universal. Eu circulo pelo mundo há muitas décadas, sempre atento a questões básicas dos direitos da pessoa humana”, completou. Dallari destacou também a situação pública notória do sistema penal brasileiro. “Criminosos fatalmente exerceriam coação brutal sobre o adolescente preso, piorando e muito sua situação social. Deduzam, os senhores, a oportunidade que não seria para os bandidos veteranos. Haveria um aumento inevitável dos chamados criminosos crônicos”, apontou. Ele lembrou que determinados direitos não podem ser reduzidos por Emenda Constitucional, como já reiterado por constitucionalistas brasileiros. “A Carta Magna de nossa República trata como penalmente inimputável o menor de 16 anos. Quer melhorar isso? Melhoremos, mas sem empurrar sobre estes a pecha de criminosos”. SUPREMACIA CONSTITUCIONAL O jurista usou como base as visões de outros grandes operadores do Direito. “José Afonso da Silva e Renê Ariel Dotti, dois exímios constitucionalistas, refutam com sabedoria a aplicação da Lei Penal aos menores de 18 anos. Ora, a inimputabilidade é característica fundamental da pessoa humana, caracterizando clausula pétrea. Consequentemente, uma emenda não pode vir a abolir a efetividade da cláusula, jamais. O poder de emenda é limitado, há um freio a esta prerrogativa”, observou Dalmo Dallari. Ele chamou de absurdo jurídico o projeto da redução da maioridade penal. “Além das aberrações jurídicas, (o projeto) contém em si um absurdo social: é profundamente contrário aos interesses da sociedade brasileira de mente sã”, completou. Para concluir, Dallari lembrou o respeito incondicional que o Direito deve manter à Constituição Federal de 1988. “Percebam que existe a exigência ética e jurídica de se respeitar a supremacia da Constituição. Exigimos, assim, a rejeição veemente desta proposta antijurídica e antissocial”, encerrou o jurista. Ao final, foram respondidas intervenções da plateia sobre a redução da maioridade penal e, aproveitando o ensejo, Dalmo Dallari falou com o público, também, sobre exemplos e modelos de políticas de combate às drogas no Brasil e nos demais países do mundo.

Redução das desigualdades é tema de painel na Conferência

Belém (PA) – “Combate à pobreza e a redução das desigualdades regionais” foi o tema do painel 06, da VI Conferência Internacional de Direitos Humanos da OAB, na tarde desta terça-feira (28). O jornalista e colunista, Luis Nassif, presidiu a mesa composta pelo historiador Geraldo Mártires Coelho e pelo diretor de ensino e pesquisa da Escola Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça do Pará (TJE-PA). O conselheiro seccional da OAB-PA, Carlos Kayath, secretariou a mesa. “Esse painel faz um panorama sobre a concentração econômica e a regional. Desde o início da República o modelo de orçamento para sustentar o café era visto como gasto virtuoso e o processo de inclusão, seja regional ou econômica, sempre esbarrou no eixo Rio-São Paulo. É importante colocar a questão dos direitos individuais na conferência”, destacou Nassif. Ele ainda lembrou que outros painéis trouxeram a universalidade dos direitos humanos como um direito relevante ao modelo civilizatório. O doutor em história, Geraldo Mártires Coelho, traçou a trajetória histórica da política econômica do Brasil com ênfase no ciclo da borracha no Pará e os impactos sociais deixados. “Em Belém do século XX a economia era a do látex, da borracha. É possível observar de que forma a economia do látex condicionou a relação entre o estado e a sociedade civil. Se observarmos Belém da época fica claro que a cidade aparelhava para um abrigo social de exclusão, pois as políticas públicas da época foram de segregação social”, destacou. Geraldo ressaltou que somente após a Constituição Federal de 1988 é que o Brasil passou a discutir os direitos humanos. “As constituições brasileiras antes de 88 foram omissas ao que hoje se refere aos direitos humanos. Só é possível trabalhar com direitos humanos a partir de 1988 e discutir o tema na Amazônia Legal. É preciso trabalhar o combate à pobreza e a redução das desigualdades regionais buscando no governo federal o quadro referenciado de programas e projetos emanados”, observou. Enquanto o ex-diretor da Escola Nacional de Advocacia do Pará, Luiz Alberto Rocha, falou sobre o combate à pobreza e a redução das desigualdades sobre uma perspectiva voltada ao consumo. “A manutenção do ritmo do crescimento, necessariamente em contraposição à capacidade física do planeta terra de gerar riqueza fez com que começássemos discutir o crescimento sustentável. Continua pressupondo uma realidade do capitalismo, que é a do consumismo, porém onde conseguimos conviver num desenvolvimento que agora parece sustentável. Isso faz com que a ideia da obrigação da permanência do crescimento continue com a política do crescimento”, explicou. “Melhor condição de consumo e não necessariamente significa redução da pobreza e não corresponde a um aumento da qualidade de vida, porém, correspondem de forma contraditória a uma reprodução do capitalismo. Continuamos vivendo na logica a manutenção do padrão ético social, no qual o bem estar é o reflexo do sucesso dos mais ricos. O consumo é fator de consagração de sucesso na vida. A tentativa de aumento de consumo faz a repercussão da ideia de manutenção da pobreza e da infelicidade”, finalizou Alberto Rocha.