Mesa redonda na OAB debate a liberdade de expressão online

Brasília – Nesta quinta-feira (23), aconteceu no Conselho Federal da OAB (23) a mesa redonda Direito e a Liberdade de Expressão Online, que debateu limites e consequências jurídicas das manifestações de pessoas, empresas e governos no ambiente virtual.

O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, fez o pronunciamento inicial do evento. “O tema é de relevância institucional e social, notadamente neste momento de desenvolvimento da sociedade brasileira. Os novos desafios precisam ser enfrentados numa perspectiva holística, que integre aspectos antropológicos, históricos e jurídicos. Direito e sociedade andam juntos e o descompasso entre eles afeta o cidadão”, apontou.

Para Lamachia, é urgente garantir que direitos fundamentais como a liberdade de expressão sejam preservados no ambiente virtual, que já se tornou o principal espaço de debates da contemporaneidade. “Como diria Stuart Mills, sempre há esperança quando as pessoas são obrigadas a ouvir os dois lados. Mas devemos sempre nos lembrar que a liberdade de expressão não pode ser confundida com irresponsabilidade”, completou.

Ele ponderou que o Brasil é exemplo de nação onde ainda persistem graves problemas de infraestrutura em tecnologia da informação. “Por isso mesmo é de se estranhar e lamentar que a Anatel esteja tão pouco comprometida com a universalização do acesso à rede, uma vez que ousou anunciar o fim da banda larga ilimitada no Brasil. O Estado, que deveria ter como principal função assegurar direitos dos cidadãos, pode ele próprio tornar-se grande ameaça aos direitos individuais do povo”, criticou.     

A palestra magna ficou por conta da norte-americana Emma Llansó, especialista em Direito Cibernético e diretora do projeto Free Expression do Centro de Tecnologia e Democracia dos Estados Unidos. “O Brasil é visto como um modelo ao redor do mundo por seu Marco Civil da Internet. A estrutura brasileira assegura direitos e deveres e essa é a melhor abordagem para desenvolver políticas para a internet, assegurando privacidade e segurança das comunicações ao permitir que as pessoas se expressem”, avaliou Emma.

“Nos Estados Unidos, a Primeira Emenda garante que nada limitará a liberdade de expressão. O pressuposto é que o Estado não censure e não regule isto. Quando é extremamente necessário que o governo limite, deve mostrar a legitimidade e a proporcionalidade nesse ato”, completou.

Emma Llansó comentou os recentes bloqueios do Whatsapp aqui no Brasil. “Essa determinação tem um aspecto totalmente ditatorial e autoritarista. O Paquistão, por exemplo, bloqueou o acesso ao Facebook. Por outro lado, a revogação rápida do bloqueio no Brasil mostra a arbitrariedade da decisão. É uma salvaguarda no que se refere à censura”, disse.

Ela falou também sobre publicações que envolvem nudez, e que os provedores de internet e os controles de redes sociais deveriam saber diferenciar melhor a pornografia do aspecto artístico e cultural. Tratou, ainda, do ataque terrorista ao jornal satírico francês Charlie Hebdo. “O que é violação para uns não é para outros, o que é agressividade em publicações para uns não é para outros. É uma das questões mais subjetivas com as quais eu já lidei”, encerrou.

Também participaram do evento Henri Clay Andrade, presidente da OAB Sergipe; Hellen Falcão, presidente da Comissão de Tecnologia de Informação da OAB Distrito Federal; Richa Bala, gerente política da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, entre outros.

OAB apresenta ao CNJ posicionamento da advocacia para conflitos de interesse na Justiça do Trabalho

Brasília - A OAB Nacional participou nesta quinta-feira (23) de audiência pública no CNJ para debater a regulamentação da política judiciária de tratamento adequado aos conflitos de interesses no âmbito da Justiça do Trabalho. A Ordem apresentou o posicionamento da advocacia sobre temas como diretrizes para conciliação e o objeto da atividade conciliatória, entre outros.

O secretário-geral adjunto da OAB, Ibaneis Rocha Jr., representou o Conselho Federal na audiência e afirmou que a Ordem fechou posicionamento com os presidentes de Seccionais, além de ter ouvido a classe em consulta pública realizada em maio, com centenas de contribuições. 

Rocha explicou que a conciliação está consolidada há décadas na Justiça do Trabalho, inclusive exportando experiências para outras áreas do Judiciário. A OAB, no entanto, é contrária à implementação da mediação e da arbitragem nesta esfera, pois entende que a presença do juiz no processo equilibra as relações. Lembrou, inclusive, que o STF já julgou inconstitucional a não presença do Estado, na forma do juiz, nos procedimentos.

Quanto à conciliação, a Ordem postula que ela não seja utilizada de forma pré-processual, pois acaba sendo travestida de mediação. Também ponderou que é preciso ter cuidado, por exemplo, com o número de mesas de conciliação e a privacidade envolvida nos processos, para que não haja constrangimentos. “Sempre com presença do Estado, com o juiz, e do advogado, porque não existe maneira de se equilibrar relação trabalhador/empregado sem a presença deles”, alertou.

Por fim, o secretário-geral adjunto reforçou o apoio e a indignação do Conselho Federal da OAB e das Seccionais quanto ao corte de orçamento sofrido pela Justiça do Trabalho, motivo de ato público realizado na sede da entidade esta semana. “O que está por trás do corte é o motivo que sempre vem em tempos de crise: o desmonte da Justiça Trabalhista. É ela que protege os cidadãos nesses tempos, as precisamos tê-la como a base da defesa da cidadania”, afirmou.

O conselheiro do CNJ Lelio Bentes, presidente do grupo de trabalho criado para elaborar estudos visando à regulamentação da política judiciária de tratamento adequado aos conflitos de interesse no âmbito da Justiça do Trabalho, afirmou que, em momentos de crise, é natural que se espere incremento no número de demandas trabalhistas, por isso é importante que o Judiciário se prepare e busque formas de atender as necessidades da sociedade.

Bentes explicou que o grupo de trabalho foi criado após a Resolução n. 125 do CNJ estipular que a Justiça do Trabalho tenha regras específicas, a serem normatizadas em texto específico. O órgão consultou todos os Tribunais Regionais do Trabalho e recebeu contribuições por meio de consulta pública, inclusive com a participação da OAB. “O objetivo é alcançar entendimento profundo da realidade que cerca os conflitos trabalhistas e as formas adequadas para sua solução, com debate de forma transparente e que alcance todos atores sociais”, disse.

Também participaram da mesa de honra da abertura da audiência pública o ministro do Tribunal Superior do Trabalho Barros Levenhagen; o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury; e o corregedor-geral da Justiça do Trabalho, Renato Lacerda Paiva.

A audiência pública no CNJ para debater a regulamentação da política judiciária de tratamento adequado aos conflitos de interesses no âmbito da Justiça do Trabalho seguirá durante toda a quinta-feira, com a participação de 45 inscritos, entre advogados, magistrados e outros atores do Judiciário.