Atuação da OAB garante a criminalização do exercício ilegal da advocacia, paridade com MP e nova regra para ações populares

Brasília – Pelo menos três bandeiras levantadas e defendidas ostensivamente pela OAB sobreviveram ao assédio parlamentar e permanecem no relatório do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ao projeto de lei 4850/2016, estabelece medidas contra a corrupção. É comum que projetos de envergadura, como este, acabem sendo alvo de inúmeras emendas e modificações até que cheguem ao Plenário para a votação definitiva.

“Foi um trabalho árduo que fizemos no sentido de garantir que esses pontos não fossem deturpados ou simplesmente suprimidos no texto final”, disse o presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia. Ao longo das últimas semanas, Lamachia esteve pessoalmente no Congresso Nacional para tratar do tema. Visitou gabinetes, conversou com parlamentares e líderes partidários e marcou presença firme na comissão especial criada para discutir o PL 4850/2016.

“Nosso empenho garantiu  a posição em audiência em igualdade com o MP, a reforma das regras da ação popular e a criminalização do exercício ilegal da advocacia. São questões que além de reforçar os instrumentos de combate à corrupção também fortalecem a advocacia e, por conseguinte, a própria cidadania. Quando o advogado, a advogada, são valorizados, o cidadão é respeitado. Seguiremos vigilantes ”, afirmou Lamachia.                     

Pelo texto aprovado na comissão especial e que será apreciado no Plenário da Câmara dos Deputados, será permitido a qualquer cidadão entrar com ação popular contra desvio de patrimônio público, com previsão de receber uma recompensa se a ação resultar em condenação. O responsável pela ação ficará protegido de qualquer forma de retaliação e a recompensa será arbitrada pelo juiz na sentença. A recompensa será paga pelo responsável pelo ilícito e será calculada de acordo com o valor dos desvios.

Além dessa medida, outras duas sugestões feitas pela OAB foram acolhidas pelo relator e aprovadas na comissão especial: a criminalização do exercício ilegal da advocacia e a previsão de que promotores e advogados fiquem no mesmo nível nas audiências judiciais, considerada uma forma, de acordo com Lorenzoni, de reforçar as prerrogativas dos advogados.


Fernanda Marinela profere palestra de abertura da II Conferência da Mulher Advogada

Belo Horizonte – A presidente da seccional alagoana da Ordem, Fernanda Marinela, proferiu a conferência magna de abertura da II Conferência Nacional da Mulher Advogada, na tarde desta segunda-feira (28).
 
“É hora de as mulheres em posição de liderança reconhecerem que, embora estejamos em um mundo masculinizado, podemos sim sermos mulheres. A discussão precisa ser honesta, envolvendo todas as barreiras e obstáculos para entender o sistema. Num primeiro momento discutia-se o feminismo da igualdade, em que as mulheres tinham de se portar como homens. E foi isso que trouxe um sentimento de inferioridade. Mas evoluímos e saímos dele para o feminismo da diferença, onde o valor positivo era exatamente a diferença. Homens e mulheres são distintos”, afirmou Marinela.
 
Ela traçou um breve paralelo da história dos direitos femininos até os dias atuais. “Hoje estamos na terceira geração do feminismo, onde toda universalização já mostrou-se burra. Nem todos os homens são efetivamente objetivos e competitivos, nem todas as mulheres são emotivas e sensíveis. Isso não é marca de gênero”, resumiu.
 
Fernanda Marinela apontou, ainda, que é necessário reconstruir as relações entre homens e mulheres. “Não somente na vida pública e nos espaços de poder, mas especialmente dentro de casa. Essa é uma relação de conflito, porque se alguém vai sentar, necessariamente alguém terá que levantar. Nosso problema não é falta de normas, mas de políticas públicas afirmativas que garantam o cumprimento das normas”.
 
A presidente da OAB-AL destacou que, na história do mundo, as mulheres sempre foram tratadas de forma discriminatória, preconceituosa e inferiorizada. “Basta ver hoje como a mulher é tratada pela mídia. Já pararam para pensar? As propagandas de cerveja nos mostram como patrimônio do homem, um mero objeto de satisfação sexual. Enquanto isso continuar acontecendo o estereótipo é trazido para a realidade, sendo vendido para as futuras gerações como algo normal”, lamentou.
 
Marinela contabilizou exemplos de violência contra a mulher. “Uma mulher é espancada a cada 12 segundos nomundo. Cerca de 80% disso é praticado pelos homens. Até quando vamos permitir que a história seja praticada dessa forma e que isso se repita? Não podemos fingir que a música que nos denigre não está tocando, que a propaganda desrespeitosa não está passando na televisão. Até quando nós mulheres seremos objetos de desejo alheio? Ou nunca seremos sujeitos ativos dos nossos próprios desejos?”, indagou.
 
Sobre a participação da mulher na política, Fernanda Marinela apontou que o eleitorado feminino já corresponde a 52% do total nacional. “Mas essa representatividade de maioria não é real. Até quando vamos permitir que os homens decidam por nós? A lei feita na diversidade tem muito mais valor, é muito mais abrangente, mais próxima da sociedade”, disse.
 
Fernanda encerrou sua conferência com um apelo. “Mulher advogada, sua responsabilidade é enorme nesse momento da história. Vamos reconstruir um país, sem a máxima de resolver problemas novos com soluções velhas. Precisamos do país que sonhamos e sabemos que temos muito a avançar, mas se não for para realizar, é melhor nem sonhar. Se estamos aqui hoje, é porque muitas antes de nós lutaram muito. Assim vamos avançar sempre e cada vez mais”, encerrou.

OAB requer e relator retira de projeto o uso de provas ilícitas e restrições ao HC

Brasília – Um esforço conjunto, reforçado pela ação enérgica da OAB, evitou que duas propostas contidas no projeto inicial das 10 medidas contra a corrupção permanecessem no texto do projeto de lei 4850/2016 relatado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e aprovado na comissão especial destinada a apreciar o texto. Restrições ao uso do Habeas Corpus e a utilização de provas colhidas de forma ilícita, contidas no texto inicial, foram retiradas da proposta que será apreciada no Plenário da Câmara dos Deputados.

O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, repudiou os dois itens e enfatizou que a necessidade de combate à corrupção deve ser perseguida, mas jamais entrar em rota de colisão com preceitos fundamentais ao Estado Democrático de Direito. “Tenho dito isso repetidamente. Não se pode combater um crime cometendo outro. É um contrassenso e um caminho muito perigoso pelo qual o país já passou e cujo legado não é motivo de comemoração. Muito pelo contrário”, criticou Lamachia, que defendeu que não haja restrições no projeto em relação à utilização do habeas corpus, que o presidente da Ordem classificou como um “instrumento da liberdade”.

“É inaceitável aceitar uma possibilidade de utilização de provas ilícitas. Tratava-se de pensar a adoção de uma fórmula demagógica como instrumento de enfrentamento dos desmandos de agentes públicos. Mas atuamos frontalmente contra e obtivemos essa vitória, que é uma conquista para a sociedade e para a democracia brasileira”, disse Lamachia.