Painel 25 – Na Conferência, especialistas debatem transparência e ética na gestão pública

São Paulo - A XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira recebeu nesta quarta-feira (29) o painel 25, “Transparência Pública, Ética e Orçamento”, presidido por Leonardo Pio da Silva Campos, presidente da OAB-MT, com a relatoria de Duilio Piato Júnior, conselheiro da OAB-MT e secretaria de Sérgio Eduardo Fisher, conselheiro federal da OAB-RJ. As apresentações foram baseadas no tema da transparência e a ética na gestão do Estado e do orçamento.

O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, participou da mesa e afirmou o painel era um dos mais importantes da Conferência, por apresentar propostas e soluções sobre transparência e ética pública, algo que a sociedade como um todo exige neste momento.

Na apresentação “O Advogado como garantia da transparência na República”, José Horácio Halfeld, presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), afirmou que o maior desafio da sociedade brasileira, atualmente, é o da segurança jurídica: as regras existem no país, mas, além de não serem respeitadas muitas vezes, são alteradas por jurisprudências. 

Nesse sentido, ele apontou que a transparência não ter sido colocada no conjunto dos direitos fundamentais do homem é fator decisivo. Propôs, então, a elaboração de uma sugestão legislativa que coloque a transparência como um direito fundamental do cidadão, um dever do Estado e a sugestão foi aprovada no plenário. 

O senador pelo Amapá João Capiberibe apresentou o tema “Gestão Compartilhada”. Ele concordou com a proposta de José Horácio Halfeld e expôs a experiência da Gestão Compartilhada em uma emenda parlamentar de sua autoria, em que a população acompanhou a realização de uma obra por meios como o aplicativo WhatsApp.

O parlamentar citou o exemplo da dificuldade de aplicação da Lei de Transparência no portal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em que há dificuldades de acessar dados sobre salários dos funcionários. Além disso, a pessoa que o faz tem o IP do computador (uma espécie de identidade digital) guardado. No fim da apresentação, solicitou o apoio dos advogados e das seccionais da OAB para que haja pressão no legislativo para a aprovação do projeto de lei sobre a Gestão Compartilhada.

“Transparência nas Atividades de Fomento” foi o tema de Régis Fernandes de Oliveira, advogado e professor de Direito Financeiro da USP. Ele afirmou que as atividades de financiamento público não são transparentes no Brasil e que se movem por “paixões políticas” e ressaltou a importância de haver transparência nas atividades de fomento do Estado. Por fim, concluiu: “Instrumentos de controle existem de monte, mas nós não participamos da vida política como deveríamos. Todo o fomento financeiro deve ser feito dentro da lei, na transparência absoluta das condutas”.

O jurista José Afonso da Silva, detentor da Medalha Rui Barbosa, palestrou sobre “Transparência no Estado Democrático de Direito”. Ele discorreu sobre o conceito do Estado Social de Direito, algo que transcende Estado Liberal de Direito e o Estado Democrático, no sentido de colocar o povo em ampla participação nos rumos da coisa pública. 

José Afonso da Silva também fez a análise de que o país enfrenta uma crise de ética e que o valor preponderante individual, utilitário e corporativista tem contaminado não só a ética política, como também as relações interindividuais. No fim da apresentação, parabenizou a proposta de José Horácio Halfeld e concluiu que “a transparência no Estado Democrático é o mecanismo de reforço na ética na política e na democracia”.

Marcelo Guedes Nunes, presidente da Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ), falou do tema “Transparência nos Dados Públicos”. De acordo com ele, o Direito é uma espécie de medicina do convívio, por isso, é fundamental ter acesso aos dados do plano concreto do direito, como os tribunais funcionam para que os conflitos sejam mais bem resolvidos ou até prevenidos. Dessa forma, ele propôs que a os tribunais se disponibilizemà troca de dados com instituições como a ABJ, para que essa análise possa ser feita.

A importância da ética na administração pública foi a apresentação de Odete Medauar, professora de Direito da USP. Ela traçou um histórico a respeito de normas de regulamentação da ética dentro da administração pública, se atendo, especialmente, na questão do funcionamento das comissões de ética nos vários âmbitos da Administração Pública. Também sugeriu que a OAB poderia propor o texto de um Estatuto de Ética nacional para o Poder Público e apresentá-lo ao Congresso Nacional.

“Poder Judiciário: Orçamento e Transparência” foi a apresentação José Norberto Lopes Campelo, advogado, que apontou um dos fatores de efetividade no combate à corrupção: implementação da transparência nos atos de gestão. Ele disse que, mesmo os relatórios da Lei de Responsabilidade fiscal, não são efetivos, por publicarem dados de difícil análise para a população em geral. Na opinião dele, a criação do Conselho Nacional de Justiça conseguiu ampliar a transparência do Poder Judiciário, com a publicação do trabalho “Justiça em Números”, em uma radiografia completa da Justiça brasileira. Ele apresentou a proposição de criação do “Portal Brasil”, com números que contemplem todos os dados da administração pública. A proposta foi aprovada. .

A “Ética no Estado de Direito” foi o tema apresentado por Ruy Samuel Espíndola, advogado e professor da Escola Superior de Magistratura de Santa Catarina. Ele disse que passados 29 anos de vigência da Constituição ainda estamos em um ciclo de retrocessos. Criticou, ainda, “uma mídia sem responsabilidade e que não cria reflexões públicas e com amplo espaço ao contraditório”. Espíndola apontou, também, o abuso de medidas da Justiça dentro da “lógica punitivista”.

EE 37 – Experiências nacionais e internacionais em mediação e conciliação na Conferência

São Paulo - Visando a discutir métodos para resolução de conflitos e trazer experiências nacionais e internacionais sobre o tema foi realizado na manhã desta quarta-feira (29) um encontro que reuniu especialistas da área na XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira. O evento especial foi coordenado por Arnoldo Wald Filho, presidente da Comissão de Mediação e Conciliação do Conselho Federal da OAB (CFOAB).

A primeira mesa foi composta por Marco Aurélio Buzzi, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ); Henrique de Almeida Ávila, conselheiro do Conselho Nacional de Justiça; Ana Carolina Riella, do norte-ameriano Harvard Mediation Institute; Fernando Navarro Sánches, coordenador do Comitê de Mediação do Colégio de Advogados Mexicanos; Ricardo César Pires de Dornelles, vice-presidente da Comissão de Mediação e Conciliação do CFOAB; Juliana Loss de Andrade, coordenadora de Projetos da Fundação Getúlio Vargas; Thais Lunardi, membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual; e Gabriela Asmar, mediadora de conflitos empresariais. 

A primeira explanação sobre o assunto foi do ministro Marco Aurélio Buzzi, que destacou a importância do profissional de Direito apresentar métodos de resolução de conflitos para pessoas menos favorecidas financeiramente, garantindo o acesso à jurisdição.

Entusiasta da mediação e conciliação, Marco afirmou que é inviável não estar atento aos novos métodos de resolução de conflitos que estão sendo implantados: “Não estou dizendo que o sistema está falido, mas que temos que atuar preventivamente. E eu tenho certeza que com a experiência que nós temos, a única alternativa real é a mediação e a conciliação, não há mais como retroceder“.  Ele finalizou o discurso com um pedido de cumprimento da lei pelos profissionais. “É o mínimo que se espera de nós neste país que já enfrenta tantos problemas. Vamos construir algo completo e que realmente atenda todos.”

O conselheiro do CNJ Henrique de Almeida Ávila elogiou o ministro e, em seguida, definiu a Mediação e Conciliação como solução e não como método alternativo. “É preciso que os tribunais dediquem energia, dispensem parte do orçamento para melhorar a estrutura e para criação de órgãos judiciais, varas e câmaras com cursos de instrução para mediação”, sugeriu.

Em seguida, Ana Carolina Riella (Harvard Mediation Institute), que atua há 13 anos fora do Brasil, contou a experiência com treinamentos de mediadores e os aspectos do programa em que trabalha atualmente, oferecendo treinamento de Mediação e Conciliação para estudantes de Direito e outros membros da comunidade. "Nosso objetivo não é só focar no direito comercial, mas, também, fazer com que o aluno atue em outras áreas que possam ser resolvidos conflitos por meio da mediação. Com o programa, o aluno aprende ainda na faculdade a prática da mediação e não só teoria”, explicou.

Outra experiência com Mediação Internacional foi contada pelo palestrante Fernando Navarro Sánches sobre o modelo, conceitos, etapas e desafios da Mediação Comercial no México e nos Estados Unidos. Uma proposta que, segundo ele, funciona amplamente. Sánchez apontou que mais de 90% dos litígios civis e comerciais são resolvidos por mediações. “É importante que os advogados encontrem um incentivo, que descubram seu papel na Mediação e que vejam que esses acordos são positivos para os clientes e também podem ser para ele”, expôs.

Gabriela Asmar, mediadora de Conflitos Empresariais, profissional com larga experiência no assunto, mencionou diversos aspectos que envolvem a Mediação entre empresas e falou das expectativas a respeito. “Eu espero do Brasil que os profissionais de advocacia ofereçam soluções mais eficientes aos clientes. A mediação é necessária para a sociedade e para o Judiciário”, disse.

A coordenadora de Projetos da Fundação Getúlio Vargas, Juliana Loss de Andrade, contribuiu com o painel falando sobre os desafios da Mediação Institucional e dos programas propostos para a solução de conflitos. “Temos profissionais excelentes e um bom histórico de ascensão à Mediação, resultado de um trabalho feito anteriormente por profissionais pioneiros”, afirmou.

Já Thais Lunardi foi enfática sobre os resultados da necessidade de formação adequada, inclusive na especialização. “Precisamos de humanização no Direito e que sejam ensinadas decisões estruturais, pois, muitas vezes, são formadas pessoas que não sabem lidar com a situação”, alertou.

Em seguida, Marina Gaensly Blattner, presidente da Comissão de Mediação da OAB-SP, definiu a Mediação como instrumento de trabalho válido para todos os advogados e falou sobre a renumeração de quem atua na área. “Gostaria de frisar e fazer uma crítica construtiva à falta de renumeração de mediadores. Acho que este é também nosso objetivo aqui, além de criticar, fazer a nossa lição de casa e a Ordem tem feito isso, um trabalho intenso sobre essa nova forma de atuação do advogado”, elogiou.

A palestra de Daldice Maria Santana de Almeida, conselheira do CNJ, trouxe as demandas existentes em todos os lados e a evolução da mediação pública e privada: “Nós éramos um subtrabalho, hoje temos um movimento mais estruturado”, disse.

Por fim, Samanta Pelajo, presidente da Comissão de Mediação e Conflitos da OAB do Rio de Janeiro, agradeceu à Comissão de Mediação e encerrou o ciclo de palestras, observando a importância de ter como foco não apenas o advogado, mas também o mediador, com uma proposta de trabalho colaborativa e soluções pensadas em conjunto. “O mediador não pode esperar do advogado algo que ele não seja capaz de trazer. É o mediador através da sua postura que vai envolver o advogado”, concluiu.

Estande de Prerrogativas na XXIII Conferência Nacional torna-se um legado à advocacia

São Paulo (SP) – Pela primeira vez na história o tema de prerrogativas tem um estande próprio e exclusivo em uma Conferência Nacional da Advocacia Brasileira. A XXIII edição da Conferência – que prossegue até quinta-feira (30) no Pavilhão de Exposições do Anhembi – torna-se assim mais um marco da atual gestão da OAB no tocante à defesa das prerrogativas profissionais de advogadas e advogados.

A programação envolve workshops e mini-palestras sobre busca e apreensão em escritórios, alvarás judiciais, interceptações telefônicas entre advocacia e clientela, livre acesso aos autos de investigações, uso da palavra em audiências, entre outros assuntos. Haverá, também,  um ato público de desagravo de cinco profissionais da advocacia, cujos casos – simbólicos pela extrema violação de prerrogativas – contaram com a efetiva participação da OAB Nacional e das respectivas Seccionais.

Jarbas Vasconcelos, presidente da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas e Valorização da Advocacia, comemorou o sucesso de público na Conferência e, principalmente, no estande de Prerrogativas. “Esse espaço destinado a nós vai muito além dessas paredes. Por tudo o que a nossa luta representa desde o início desta gestão, essa pequena esquina entre os corredores dos estandes se tornou, para a advocacia brasileira, o solo sagrado da defesa do exercício pleno daquela que é a profissão que garante as liberdades”, discursou.

Para o vice-presidente da Comissão Nacional, Cassio Telles, o estande próprio na XXIII Conferência é um sinal claro da importância que a atual gestão da OAB dedica às prerrogativas. “O nosso espaço materializa a preocupação com o tema. Sem prerrogativas não é possível exercer livremente a defesa da cidadania, por isso temos percorrido o país para ouvir a advocacia brasileira, seus reclames, críticas e preocupações. Só assim é possível saber das dificuldades do exercício profissional”, disse.

Telles falou também sobre a Caravana Nacional em Defesa das Prerrogativas, que já percorreu 18 Seccionais da OAB. “É a medida maior, e bem sucedida, de aproximação efetiva do Conselho Federal da OAB com as Seccionais e Subseções. Sem dúvidas, constatamos que a maior violação de prerrogativas é a falta de estrutura e de capacidade instalada do Judiciário”, alertou.

Charles Dias, procurador nacional de Defesa das Prerrogativas, foi outro a aclamar a iniciativa de um espaço exclusivo aos debates sobre prerrogativas e o livre exercício profissional. “Estamos, como bem frisou e repetiu o presidente Lamachia em vários painéis, no maior evento jurídico do mundo. Logo, pela força da bandeira que encampamos aqui, temos o mais importante estande de prerrogativas também. É motivo de orgulho todo esse reconhecimento, que ao mesmo tempo nos motiva a seguir em defesa das prerrogativas e do exercício profissional da advocacia em sua plenitude”, apontou.

Perseverança

O estande de Prerrogativas da XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira teve um encontro de gerações. A palestra do advogado Diogo Tebet – ícone da jovem advocacia – foi sucedida pela de Paulo Sérgio Leite Fernandes, que aos 82 anos segue advogando desde 1957. “O advogado integra um exército de bravos guerreiros que não devem, jamais, curvar-se a ninguém”, disse Fernandes.