Brasília (DF) – Nesta terça-feira (13), como homenagem da diretoria nacional da Ordem e do Conselho Pleno da entidade pelo Dia Internacional da Mulher – comemorado no último dia 8 – a primeira parte da sessão ordinária do Conselho foi exclusivamente dedicada às advogadas brasileiras.
O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, destacou o simbolismo da solenidade. “Sem dúvidas, um dos momentos mais marcantes da história deste Conselho. Não existe República onde há discriminação, e este é um compromisso nosso: combater qualquer forma de discriminação, notadamente essa que é odiosa e que vitima as mulheres. A evolução tem aparecido ao longo dos anos, e um dos resultados é este Plenário ser o que tem o maior número de conselheiras na história e também à frente das comissões nacionais”, apontou.
Lamachia lembrou ainda que a Ordem tem envidado esforços efetivos para dar cumprimento ao Plano Nacional da Mulher Advogada. “Em 2017, uma demonstração clara foi dada quando transformamos nossa Conferência Nacional dos Advogados em Conferência Nacional da Advocacia. Atuamos legislativamente pela garantia de direitos à advogada gestante e mãe. Precisamos, sim, que num ano de eleição todas as advogas brasileiras busquem seu espaço institucional para que, de fato, materializemos a campanha por mais mulheres na OAB. Na política, da mesma forma, pois igualdade é a nossa causa”, apontou.
Foi exibido um vídeo produzido pelo Centro de Memória da OAB que registra a passagem de mulheres na condição de conselheiras federais, com depoimentos de Carolina Petrarca, Marina Gadelha, Flávia Brandão, Sandra Krieger, Marié Miranda, Eduarda Mourão, Luciana Nepomuceno, Márcia Approbato Melaré, Francilene Gomes, Veralice Gonçalves, Adriana Coutinho, Cláudia Paranaguá, Valentina Jungmann e Cléa Carpi da Rocha.
Pronunciamentos
A presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada, Eduarda Mourão, iniciou sua fala citando Rui Barbosa: “A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”. Essa é a casa da cidadania, das teses, da voz, do voto, das ideias. Em nome do meio milhão de advogadas brasileiras, queremos falar. E falar sobre nós. O momento requer reflexão neste dia que nos inspira e nos chama à celebração”, disse.
Eduarda lembrou ainda de Mirtes Campos, a primeira advogada do Brasil, e de Maria Rita Soares – primeira conselheira federal da OAB – citando-a como “farol pelo seu pioneirismo de atitudes e ideias”.
“As cotas instituídas na Ordem foram sim um avanço. É um sistema complexo, muitas vezes antipatizado, mas era necessário dar passos largos rumo à ocupação de cargos por mulheres advogadas competentes. É uma política que vem sendo repensada, pois deve sim ser melhorada. A exemplo de estados como Roraima e Sergipe, estamos na busca pela paridade, pelos 50% a que temos direito”, apontou.
Medalha Rui Barbosa
Cléa Carpi da Rocha, conselheira federal pelo Rio Grande do Sul agraciada com a Medalha Rui Barbosa – maior comenda da advocacia brasileira – falou em seguida. “Façamos uma reflexão sobre progressos alcançados. E também um chamamento para mudanças. Que as cinzas das 129 mulheres queimadas vivas em 8 de março de 1957 numa fábrica de Nova Iorque tenham um sentido, e que este encontre respaldo na legislação”, disse.
Ela destacou dois importantes acordos positivistas de garantias de direitos das mulheres: o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Lamentou, também, o fato de somente uma das 27 seccionais ser presidida por mulher. “Os dados indicam a lentidão do reconhecimento da extraordinária capacidade e do dedicado servir da mulher advogada. Em 88 anos, apenas 10 foram presidentes de seccionais. E nos quadros da diretoria nacional da Ordem, apenas 3, me incluindo”.
Mais Mulheres na Política
Após a exibição de um vídeo sobre o tema, a conselheira federal Luciana Nepomuceno (MG) explicou a iniciativa. “Como o presidente Lamachia frisa, voto não tem preço, tem consequência. E há legislação específica determinando a presença mínima de 30% das mulheres na política, a fim de se fazer uma maior representação nas instâncias de poder”.
Luciana alertou para o fato de, nos pleitos eleitorais recentes, nomes de mulheres estarem sendo utilizados de forma fictícia e fraudulenta com o propósito de formar as chapas com o percentual mínimo. “O MP ajuizou diversas ações embasadas em um único propósito: 0% de votos de várias mulheres em si próprias, indício fortíssimo que levou à cassação de diversos vereadores Brasil afora. A partir do momento que tivermos mulheres nas lideranças dos partidos, a situação irá se inverter. Não queremos privilégios e nem benefícios, mas igualdade de oportunidades para alcançarmos igualdade nas conquistas”, conclamou.
Plenário
Em nome dos 81 conselheiros federais, pronunciou-se Carlos Roberto de Siqueira Castro (RJ). “Foi das mais gratas surpresas ter sido escolhido para falar à advogada brasileira. Saúdo a todas em nome de três grandes expoentes femininos: Eduarda Mourão, Helena Dellamônica e Cléa Carpi da Rocha. A última citada, na verdade, é como se fosse uma Estrela de Belém para todos nós, nos conduzindo pelos melhores e mais republicanos caminhos”, apontou.
Ele traçou um paralelo histórico. “A luta pela emancipação da mulher é um processo imemorial de ruptura histórica social, econômica e modelar. A mulher foi vítima de toda a sorte de preconceitos desumanos. A história nos mostra a brutalidade com que o ser feminino foi assolado ao longo de séculos”, lembrou.
Castro elogiou também a atenção da atual diretoria à causa feminina. “Estou há anos neste Conselho e nunca a questão da mulher foi tão discutida e valorizada. Não que os antecessores não tivessem contribuído em suas possibilidades, mas a concentração atual no tema é pulsante. O ambiente é de grandeza emocional. Embalado por ele, afirmo: queremos, queridas e respeitadas colegas, ser parte das vossas histórias e das vossas vitórias”, disse.
Em nome dos presidentes de Seccionais, falou Fernanda Marinela (AL). “Minha fala é de parabéns a todas as mulheres determinadas, guerreiras, criativas, objetivas, que com muito pouco construíram muito. Mulheres que desbravaram o caminho e nos trouxeram até aqui. A minha palavra de ordem é gratidão. Caminhando de mãos dadas, com certeza homens e mulheres irão mais longe. Se nós, mulheres, pagamos a metade da conta deste país, queremos ocupar a metade da mesa”, encerrou, aplaudida de pé.