Diretor-tesoureiro do CFOAB participa de audiência no Senado sobre trecho da BR-163 em MT

Representantes do Conselho Federal da OAB e da OAB-MT participaram, na manhã da última terça-feira (14/6), de audiência pública híbrida promovida pela Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, para debater o processo de concessão de trecho da BR-163 em Mato Grosso, que está sob a responsabilidade de uma concessionária.

O contrato compreende um trecho de 850 km da BR-163. O trajeto corta 19 municípios mato-grossenses, entre eles a capital, Cuiabá, e Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum, região grande produtora de grãos que tem a rodovia como principal via de escoamento. A concessão está em fase de devolução ao governo, aguardando decreto presidencial para encerramento do contrato e posterior nova licitação.

Mobilização

Em sua intervenção, o diretor-tesoureiro da OAB Nacional e conselheiro federal (MT), Leonardo Campos, destacou a necessidade de mobilização de diversos setores da sociedade visando a celeridade do processo de relicitação. Além disso, o advogado fez um breve histórico da atuação da OAB-MT, por meio de sua Comissão Especial da BR-163, que desde 2020 atua junto às diferentes esferas do governo, agências reguladoras e concessionária, em busca de uma solução para a população mato-grossense que utiliza a rodovia.

"Ao longo dos últimos anos, a OAB-MT realizou muitas reuniões, estudos e relatórios técnico-jurídicos para que hoje possamos estar aqui discutindo uma virada de página efetiva dessa questão da BR-163, que já ceifou centenas de vidas e gerou prejuízos econômicos e sociais para o país. Agora, graças a todo esse trabalho feito, os maiores entraves jurídicos já estão superados e é preciso que tenhamos uma única voz, no sentido de cobrar a assinatura do decreto presidencial, o avanço dos estudos e a elaboração de um aditivo que atenda às principais demandas da região, para que o bem público não se degrade e a população não fique desassistida durante a transição”, afirmou o representante da OAB.

Ele relembrou ainda que a empresa formalizou o processo de devolução amigável da concessão em dezembro do ano passado, mas já havia anunciado, em audiência pública realizada pela OAB-MT em junho de 2021, que entregaria a outorga, caso não houvesse acordo para assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). A questão tramitou no âmbito da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), assim como no Ministério da Infraestrutura, tendo a OAB-MT como amicus curiae. “A Ordem continuará contribuindo, enquanto representante da sociedade civil, sem qualquer viés político e partidário. Apenas e tão-somente com viés técnico e jurídico, atuando em prol dos interesses da sociedade mato-grossense”, finalizou Leonardo Campos.

O senador Fábio Garcia, que solicitou e presidiu a audiência, também agradeceu à Ordem pelo trabalho realizado em prol da resolução do problema da concessão da rodovia. “Reconhecemos o avanço que houve desde o momento em que a OAB abraçou essa pauta e realizou grandes esforços para que chegássemos a esse dia de hoje já com as questões legais e jurídicas bastante encaminhadas, compreendidas, analisadas e com muitas chances de avançar efetivamente. A população de Mato Grosso agradece pelas contribuições importantes para o encaminhamento prático dessa questão”, pontuou o senador.

A expectativa agora é de que o decreto da Presidência seja assinado até o final de junho. Em seguida haverá um termo aditivo de transição, para regrar aspectos, como a tarifa nesse período, obras de manutenção e obras emergenciais a serem realizadas no período de transição. Paralelamente, encontram-se em estágio avançado na Empresa de Planejamento e Logística (EPL) os estudos técnicos para a nova licitação.


OAB age para que advogada de indigenista tenha acesso aos autos do inquérito policial

A OAB Nacional, por meio da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas e Valorização da Advocacia, oficiou o delegado superintendente regional da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes. O documento pede que seja imediatamente concedido o amplo e irrestrito acesso aos autos do inquérito policial relativo às investigações do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, no Amazonas, à advogada Carolina Ribeiro Santana, bem como dos demais advogados constituídos.

As comissões foram informadas de que a advogada Carolina Ribeiro Santana teve, repetidamente, o acesso negado aos autos do referido inquérito policial. A advogada é legalmente constituída para o acompanhamento das investigações do desaparecimento de Bruno Araújo Pereira e Dom Philips, em circunstâncias ainda não esclarecidas, na região do Vale do Javari (AM). Carolina foi legalmente constituída pela esposa de Bruno Pereira, Beatriz de Almeida Matos.

“O acesso aos autos do inquérito policial, ainda que sigiloso, é prerrogativa incontroversa da advocacia, conforme dispõe artigo 7º, incisos XIII, XIV e XV, da Lei 8.906/94 (Estatuto da OAB), possuindo o direito de examinar, mesmo sem procuração, autos de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos ao agente público responsável, podendo, ainda, copiar e tomar apontamentos, em meio físico ou digita”, diz o documento.

O ofício salienta ainda que a violação de imprescindível prerrogativa da advocacia ataca frontalmente o livre exercício da defesa de seu cliente de forma plena, além de poder ensejar em enquadramento no artigo 32 da lei 13.869/2019, denominada Nova Lei de Abuso de Autoridade.

Confira aqui a íntegra do ofício da OAB à Polícia Federal do Amazonas.

OAB cumprimenta Moraes e Lewandowski por eleição no TSE

A OAB Nacional cumprimentou oficialmente, nesta quarta-feira (15/6), os ministros Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski pela eleição de ambos como presidente e vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, respectivamente. O ofício foi assinado pelo presidente da OAB Nacional, Beto Simonetti, e pelo presidente da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais, Marcos Vinicius Furtado Coêlho.

No texto, a OAB Nacional ressalta confiança irrestrita nos dois ministros para condução das eleições nacionais, em outubro. “Expressamos o apoio irrestrito do Conselho Federal da OAB na missão da garantia da integridade das eleições, do combate à desinformação e do fortalecimento da democracia, assim como para a promoção do diálogo institucional de mais alto nível”, afirma Simonetti.

A sessão solene de posse de Moraes e Lewandowski está marcada para 16 de agosto, às 19h. O mandato é dois anos. O TSE é composto por, no mínimo, sete ministros: três do Supremo Tribunal Federal; dois do Superior Tribunal de Justiça (STJ); e dois representantes da classe dos juristas – advogados com notável saber jurídico e idoneidade – indicados pelo presidente da República. Cada ministro é eleito para um biênio, sendo proibida a recondução após dois biênios consecutivos.

Cooperação contra fake news

Em abril, a OAB Nacional e o TSE firmaram termo de cooperação para a definição de ações, medidas e projetos para o enfrentamento da desinformação no processo eleitoral e para o fortalecimento da confiança nas instituições eleitorais. O acordo foi assinado em reunião realizada na sede do tribunal.

Ao assinar o termo de cooperação com a OAB, o tribunal reconheceu a centralidade da Ordem dos Advogados do Brasil para a preservação do Estado Democrático de Direito e reforçou a importância da união de esforços entre Justiça Eleitoral e entidades preocupadas com a garantia de divulgação de informações checadas e transparentes, que combatam a disseminação de notícias falsas e de discursos de ódio.

A Ordem se comprometeu a realizar atividades voltadas à conscientização a respeito da ilegalidade e da nocividade das práticas de desinformação. A OAB também assumiu o compromisso de privilegiar, na organização de eventos científicos e publicações acadêmicas, assim como na concessão de entrevistas e na publicação de artigos de opinião, temas como a integridade das eleições brasileiras, a tolerância política, a legitimação do pensamento divergente e o papel da Justiça Eleitoral como instituição garantidora da democracia.

OAB cobra investigação completa e solução do caso do indigenista e jornalista desaparecidos no AM

A OAB Nacional, por meio da Comissão Nacional de Defesa dos Direitos Humanos, oficiou o delegado superintendente regional da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, e o procurador-chefe do estado do Amazonas, Thiago Pinheiro Corrêa, pedindo a adoção de medidas necessárias para a localização do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Philips, cujos desaparecimentos ocorreram em circunstâncias ainda não esclarecidas, no Vale do Javari (AM).

O documento pede que “todas as medidas necessárias para a localização dos desaparecidos, sem negligenciar seus deveres constitucionais e internacionais de proteção dos direitos humanos” sejam adotadas. O ofício exige ainda que os fatos relativos aos desaparecimentos sejam esclarecidos em todos os seus detalhes e contextos. A OAB quer ainda a ativação dos órgãos de controle para que averiguem eventuais demoras excessivas no início efetivo das buscas para a localização dos desaparecidos, bem como seja vigilante e enérgica no curso das investigações para cumpram com o dever de devida diligência do Estado brasileiro.

“O contexto das circunstâncias é deveras inquietante e decorre de situação que traz à lume carência estatal das políticas ambientais e de proteção às terras indígenas, em situação de ameaças múltiplas, de um lado; e, de outro, constantes ameaças que defensores e defensoras de direitos humanos vêm sofrendo em nosso País”, diz o documento da OAB, assinado pela presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos, Silvia Souza.

Leia o ofício enviado à Polícia Federal na íntegra

Leia o ofício enviado ao procurador-chefe do Amazonas na íntegra 

Presidente da OAB-RO quer melhorar tecnologia para o dia a dia da advocacia

Márcio Nogueira viu a OAB transformar a própria vida e, agora, à frente da seccional de Rondônia, quer fazer o mesmo pela entidade. Para isso, pretende usar da tecnologia para facilitar o dia a dia do advogado e apresentar a ele novas possibilidades, por meio do primeiro laboratório de inovação da entidade. Ao mesmo tempo, não abdica do presencial: advocacia se faz no olho no olho. 

"Antes da Ordem eu achava que advogar era cumprir prazo. E advogar não é cumprir prazo. É você cultivar no coração do cidadão o sentimento de Justiça. Isso só se faz com olho no olho, com conversa, com diálogo", diz. Nessa linha, a OAB-RO faz, hoje, uma forte defesa do retorno dos magistrados aos fóruns e da fixação de residência na cidade em que atuam. 

Na avaliação dele, grande parte da força que a advocacia tem na Constituição vem do papel exercido ao longo do tempo na defesa da democracia. E ele entende que quanto mais a Ordem se coloca como a voz da sociedade, mais tem força para defender a advocacia. Mas sem assumir uma pauta político-partidária. 

Para os advogados e advogadas, o laboratório que teve o primeiro ciclo iniciado recentemente vai tratar de tecnologia, mas também de precificação do trabalho, de marketing e de novas e diferentes áreas que podem demandar atuação dos profissionais, como de games, diabéticos ou a comunidade LGBTQI+.

Confira aqui a íntegra da entrevista.

CFOAB - Qual será o foco de sua gestão?

Márcio Nogueira - A realidade, do jeito que nós a conhecemos, está sendo devorada pela tecnologia. Não adianta a advocacia e a Ordem acharem que nós passaremos ilesos por esse processo. É impossível. Então, qual é o foco da gestão? É impulsionar esse processo de transformação. É fazer uma Ordem que tenha disposição de transformar a si para se colocar relevante diante da realidade e, o principal, que tenha a capacidade de ajudar a advocacia a se transformar para se colocar relevante nessa realidade. A palavra que mais eu tenho usado é transformação. Eu defendo muito que a advocacia e a Ordem abracem a tecnologia. Não adianta lutar contra. Não adianta lutar para que o processo volte a ser de papel, que nós vivamos do jeito que vivíamos anteriormente. E nós perderíamos relevância como profissão, como entidade. Nessa linha, uma das principais ações nossas é o primeiro laboratório de inovação da advocacia em todo o Brasil. O foco da gestão é transformação e a gente já começou a fazer. Fomos a primeira a OAB a fazer o registro de sociedade todo online. Eu agora quero ser a primeira a registrar em segundos. O advogado, hoje, para ter acesso a um regime de tributação favorável, precisa ter sociedade, e aí consegue tributação de 4,5%. Eu quero facilitar bastante. Esse é um processo que demorava meses. Eu consegui reduzir para dias. Agora quero reduzir para segundos. Em segundos ele ter o ok dele já com CNPJ da sociedade registrada. E essa é uma lógica que eu quero aplicar a todos os serviços da OAB. Eu vejo a OAB como um grande aplicativo. Eu quero que o advogado acesse os nossos serviços com a máxima efetividade e qualidade. Eu tenho trabalhado por isso todos os dias. 

CFOAB - Qual é a ideia desse laboratório?

Márcio Nogueira - A ideia central é que o jeito de advogar, o modelo de advocacia precisa ser renovado. Não adianta eu achar que eu vou me estabelecer como advogado e construir uma carreira do jeito antigo. É preciso repensar a própria advocacia. E esse nosso laboratório de inovação nasce com essa intenção de colocar uma série de questões para a advocacia treinar o olhar para diversas áreas e ajudar o advogado a construir um novo modelo de advocacia. O advogado vai ter treinamento em financeiro, marketing, tecnologia para entender quais são as tendências do futuro, uma série de áreas que nós não somos treinados na faculdade. E ele vai ter acompanhamento do começo ao fim de um mentor para ajudá-lo a desenvolver um modelo de advocacia que, ao final, ele vai nos apresentar. No sábado, nós tivemos uma batalha de mentores. Tivemos em torno de 200 inscrições para o laboratório. Tiveram uma aula sobre pitch, que é um conceito que as startups usam para explicar como você transforma a vida do teu cliente em três minutos. A gente é treinado para pensar sobre a lei. Não para comunicar dessa maneira. Cada um deles passa por um treinamento, e aí na sequência cada um deles vai fazer um pitch. E os mentores vão batalhar pelos mentorados, formar os time, e esses tutorados vão participar de uma trilha de conhecimento de seis meses em habilidades que não são treinadas na faculdade, com o apoio desse mentor para, ao final, fazer uma nova apresentação do seu modelo de advocacia. A ideia é que nós tenhamos cinco ciclos ao longo da gestão. Começamos agora o primeiro. Vamos ter dois ciclos por ano. A ideia é que quando eu tenho um grupo de 200, 500, 1 mil, 2 mil advogados treinados para pensar diferente, eu consigo elevar o mercado. E a gente está começando pelo básico. Por exemplo, ninguém nunca me ensinou a precificar. Na prática, o advogado acaba fazendo de cabeça e isso gera um problema gravíssimo. Sem um financeiro bem posto, ele vai ter grande dificuldade de manter a advocacia dele e manter a si mesmo. Eu vou te dar aqui um exemplo do que eu quero chegar no final. Esses dias eu vi algo espetacular. Um advogado especializado em defesa dos gamers. Esse advogado percebeu que tem gente que fica meses jogando em plataformas na internet, evoluindo no jogo e eventualmente acontece de ele ser banido pelo gestor daquele jogo. Esse banimento pode ser ilícito. Quando ele é banido, tem que voltar à estaca zero. E pode ser ilícito esse banimento. E se esse banimento pode ser ilícito, você tem aí um campo gigantesco para a advocacia atuar. O mercado de games hoje movimenta bilhões de dólares. É um oceano azul para a advocacia. Outro dia eu vi um outro modelo interessantíssimo. Um advogado especializado em diabéticos. Ele percebeu que os diabéticos comumente têm o tratamento negado pelos planos de saúde. O tratamento é continuado, exige sessões a mais do que os planos autorizam e, portanto, os diabéticos vivem em conflito com os planos de saúde. Então ele atende o país inteiro, somente nessa relação diabético-plano de saúde. Você tem dúvida que esse mercado é gigantesco? Tem outro caso espetacular de uma advogada especializada na comunidade LGBTQIAP+. Essa é uma comunidade que está, hoje, expandindo as fronteiras dos seus direitos. O meu ponto é que a OAB de Rondônia estimule a advocacia a desenvolver modelos que sejam condizentes com a realidade. A gente está fazendo isso pelo laboratório de inovação.

CFOAB - O foco não é apenas a tecnologia então?

Márcio Nogueira - Nós temos que abraçar a tecnologia, porque ela nos ajuda naquelas atividades que são repetitivas, que não são humanas. Então quanto mais o advogado abraça a tecnologia, mais tem tempo para fazer o que realmente dá resultado para ele: cuidar do cliente. A tecnologia é enxergada, por esse laboratório, como uma ferramenta. No meu próprio escritório, eu trabalho com gestão de grandes carteiras. O meu foco é desjudicialização. Uma empresa que tem muitos processos me contrata com uma finalidade: matar essa carteira, pegar esses processos e criar uma estratégia para diminuir consideravelmente essa carteira. Então eu tenho um volume muito grande de protocolos por dia. Antigamente eu tinha um time de pessoas que ficavam o dia todo fazendo protocolos no PJe. Agora eu tenho um robô. E com isso eu consigo colocar o meu esforço no atendimento ao cliente, na atenção ao cliente, na redução da carteira dele. Então o laboratório tem foco ou tecnologia, mas o foco principal do laboratório é desenvolver o advogado para que ele enxergue as oportunidades, que são muitas que nós temos hoje no mercado.

CFOAB - Qual é a importância da OAB para a advocacia?

Márcio Nogueira - Para usar uma frase que não é minha, quando eu assumi a Ordem, eu convidei para fazer um vídeo o presidente da sessão de instalação da OAB de Rondônia, que foi o nosso primeiro inscrito, o dr. Arquilau de Paula. E ele disse, sobre a missão da Ordem: a Ordem é o órgão de defesa da advocacia. Então a força da advocacia está na força que a Ordem tem. É fundamental a existência da Ordem para manter a advocacia com a força que ela tem. E por isso que, nesse contexto atual, de mudanças muito grande, é que eu acho que essa manutenção da força da advocacia passa por uma Ordem que impulsiona a advocacia a se transformar. Não adianta só fazer defesa de prerrogativas. A defesa de prerrogativas é fundamental. A defesa dos honorários é fundamental. Algumas bandeiras da Ordem são fundamentais. Mas se eu não defendo a transformação, se eu não ajudo o advogado a se transformar para essa outra realidade, as outras todas caem. Então a Ordem é o órgão de defesa da advocacia e nessa defesa um ponto principal no mundo de hoje é ajudar o advogado a se colocar nessa nova realidade.

CFOAB - Qual é a importância da OAB na sua vida?

Márcio Nogueira - Eu comecei na advocacia e acabei com aquela dificuldade inicial, mas você uma hora você acerta e as coisas acontecem. Eu era um advogado que tinha muito prazo para cumprir, trabalhava muito e não tinha nenhuma relação com a Ordem. E aí um amigo, Andrey Cavalcante, resolveu ser candidato a presidente e perguntou se poderia colocar meu nome na chapa. Nós fomos vitoriosos e eu me tornei conselheiro seccional da OAB. A vivência aqui na Ordem foi me fazendo me apaixonar pela instituição. Então eu fui conselheiro seccional na primeira gestão dele, na segunda fui secretário-geral, e o presidente seguinte foi o Elton Assis também me convidou para seguir na Secretaria-Geral. Na Secretaria Geral, nós implantamos alguns programas que são pioneiros em todo o sistema. A OAB-RO foi a primeira a funcionar inteiramente no digital. Nós digitalizamos todo o acervo da seccional, um acervo de quase 40 anos à época. Desde a inscrição do advogado, passando pelo TED, pela Comissão de prerrogativas, nós fomos a primeira OAB do Brasil a fazer todos os registros de sociedade do advogado no digital. O advogado entra na internet, dá entrada no contrato social dele e sai de lá com CNPJ. Então eu comecei por acaso, em 2013, me apaixonei e desde então tenho trabalhado para melhorar o sistema. A Ordem me ensinou que não há nada mais importante do que a conexão que você cria com as pessoas. Antes da Ordem eu achava que advogar era cumprir prazo. E advogar não é cumprir prazo. É você cultivar no coração do cidadão o sentimento de Justiça. Isso só se faz com olho no olho, com conversa, com diálogo. A Ordem transformou completamente a minha vida. Graças à Ordem hoje eu entendo o que realmente vale a pena, que é essa conexão que a gente cria com as pessoas.

CFOAB - Pode contar um pouco da sua história com a advocacia, de onde surgiu o interesse?

Márcio Nogueira - Não sei te dizer quando eu tomei a decisão. Quando eu procuro na memória, eu sempre disse que seria advogado. Não tem ninguém na família na advocacia. Fui o primeiro a fazer o curso de direito, mas eu não consigo dizer quando esse sentimento nasceu. Parece uma coisa natural. Não teve um momento. Nunca me imaginei fazendo outra coisa. E eu não tenho nenhuma referência. Meus pais são comerciantes pela vida inteira, não têm curso superior. Mas a advocacia tem uma capacidade sem igual de transformar a realidade. É uma capacidade gigantesca de transformar a vida de cada uma das pessoas e de uma forma coletiva. A força que a nossa atuação tem na sociedade é algo que me motiva enormemente. A promessa de cidadania que a Constituição fez está muito longe de ser cumprida e a nós foi confiada essa missão de fazer essa promessa cumprida. Tem trabalho que não acaba nunca na advocacia.

CFOAB - Gostaria de falar de outros temas que julga importantes? 

Márcio Nogueira - A minha bandeira principal é de transformação. É um mandato que quer transformar a Ordem, que abraça a tecnologia para transformar a Ordem e a Ordem servir melhor a advocacia, mas principalmente para que a Ordem tenha um papel de impulso na transformação da democracia. Uma luta que nós temos empreendido aqui na OAB de Rondônia é que o magistrado more na comarca em que ele judica. Esse é um ponto importante. A pandemia nos fez reinventar o modo como a Justiça funcionava e passamos a funcionar em telas. Eu acho incrível. Eu acho incrível que nós possamos fazer a Justiça acontecer de qualquer lugar, mas eu não acho que a Justiça caiba inteira numa tela de computador. Eu tenho defendido e lutado para que a Constituição Federal e a Loman sejam cumpridas e os magistrados residam na comarca em que judique. Eu tenho lutado para que o advogado tenha a sua prerrogativa de ir até o fórum, abrir a porta e encontrar o magistrado. Eu não tenho dúvida de que nós conseguimos resolver muitas coisas pela tela. Mas nada se compara a um olho no olho presencial. Eu defendo que a Ordem assuma um papel de protagonismo na construção desse novo sistema de Justiça. A Ordem não pode ser arrastada por esse processo. Ela tem que ser protagonista. A Ordem precisa defender um modelo de sistema de Justiça e lutar por ele. Há quem fale que o juiz pode morar em Miami, tanto faz, que o Judiciário pode funcionar inteiramente numa tela de computador. E eu acho que isso não é Justiça. E eu acho que a Ordem precisa assumir uma posição quanto a essa temática. 

CFOAB - Falamos da importância da OAB para advocacia, mas o senhor também mencionou o papel de destaque da OAB na sociedade. Como tem que ser essa atuação?

Márcio Nogueira - Grande parte da força que nós temos da Constituição vem do papel que nós temos exercido ao longo do tempo na defesa da democracia. Quanto mais a Ordem se coloca como a voz da sociedade, mas tem força para defender a advocacia. Eu defendo muito e tenho praticado uma gestão que se coloca no fortalecimento de temas de interesse coletivos, mas sempre com a preocupação de não assumir qualquer posição político-partidária. Mas é uma linha tênue e a gente precisa ter atenção com ela. Não há espaço para a OAB na vida político-partidária. Uma Ordem que vocaliza o sentimento da sociedade, mas sem assumir uma pauta político-partidária.

OAB repudia atitude arbitrária de juíza do caso Henry Borel

A OAB Nacional, por meio da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas e Valorização da Advocacia e da Procuradoria Nacional de Defesa das Prerrogativas, reagiu em resposta à conduta arbitrária da juíza Elizabeth Machado Louro, da 2ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). A OAB divulgou uma Nota de Repúdio ao fato e oficiou a corregedoria do TJ-RJ com pedido de providências.

O presidente da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas e Valorização da Advocacia, Ricardo Breier, afirmou que o posicionamento da Ordem, tanto com a nota de repúdio quanto com o ofício ao TJRJ, sinaliza sua posição inegociável em defesa das prerrogativas da advocacia. “Essa será a postura dessa gestão. Não toleraremos ofensa alguma às prerrogativas da advocacia. Em qualquer situação desse tipo, tomaremos todas as medidas administrativas e legais para combater o crime de violação de prerrogativas da advocacia, que recentemente teve sua pena aumentada com a sanção da Lei 14.365/22”, disse Breier.

A presidente da OAB-PR, Marilena Winter, apontou a importância das prerrogativas no devido funcionamento do Justiça. Ela é uma das signatárias do ofício ao TJ-RJ, uma vez que um dos advogados que sofreram com a conduta da magistrada é do Paraná. “Precisamos defender com vigor as prerrogativas da advocacia, pois elas representam a garantia da cidadania, do direito à defesa e, em última instância, do correto funcionamento do Sistema de Justiça. O caso em questão não ofende a uma advogada ou a um advogado em particular, mas atinge a toda a advocacia e vulnera a segurança jurídica, na medida que, deliberadamente, a magistrada se recusa a cumprir os preceitos do Estatuto da Advocacia”, afirmou Marilena.

Cadastro de violadores

Breier acrescentou que o caso evidencia a importância do Cadastro Nacional de Violadores de Prerrogativas. “Comprovada uma violação, essa autoridade pública infratora será cadastrada como violadoras de prerrogativas e, quando se aposentar, não exercerá a advocacia, não estará nos quadros da Ordem. Quem desrespeita prerrogativas, além de ser responsabilizado pelos órgãos competentes, neste caso o TJRJ, não terá acesso aos quadros da OAB”, declarou o presidente da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas e Valorização da Advocacia.

Além de Breier e Marilena, também subscrevem o documento da OAB ao TJRJ o presidente da OAB Nacional, Beto Simonetti, o procurador-nacional de defesa das prerrogativas, Alex Souza De Moraes Sarkis, a diretora de prerrogativas da OAB-PR, Marion Bach, o presidente da Comissão de Defesa das Prerrogativas Profissionais da OAB-PR, Ygor Nasser Salah Salmen, o presidente da OAB-RJ, Luciano Bandeira, e o presidente da Comissão de Defesa, Assistência e Prerrogativas da OAB-RJ, Marcello Augusto Lima de Oliveira.

O caso

Durante sessão na 2ª Vara Criminal do RJ, para a oitiva do ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, acusado pela morte do menino Henry Borel, 4 anos, a magistrada fez exigências contundentes e repetitivas em tom imperativo sobre a postura de advogadas e advogados que trabalham na defesa. Ela sucessivamente ordenou que as advogadas e os advogados se sentassem, como condição para que pudessem se manifestar. Ameaçou interromper a sessão caso fosse desobedecida.

Confira a Nota de Repúdio na íntegra

Confira o ofício enviado à Corregedoria do TJRJ

Férias para advocacia criminal agora é lei

Além de mudanças no Estatuto da Advocacia, a Lei 14.365/2022 também traz inovações importantes por meio da mudança em outros dispositivos. Um deles, o Decreto-Lei 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). Com isso, um período de férias passa a ser previsto no código, mais uma conquista para a advocacia alcançada por meio da nova lei. A novidade é resultado do trabalho incansável da OAB, por meio de suas comissões, e da colaboração e participação da advocacia de todas as regiões do Brasil.

O período de férias para advogados criminalistas surge com o acréscimo do artigo 798-A ao Código de Processo Penal. Nele, fica estabelecido que está suspenso o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, salvo nos casos que envolvam réus presos, nos processos vinculados a essas prisões; nos procedimentos regidos pela Lei Maria da Penha; e nas medidas consideradas urgentes, mediante despacho fundamentado do juízo competente. Durante o período de suspensão, fica vedada a realização de audiências e de sessões de julgamento, salvo nas hipóteses de exceção.

Veja como fica a nova redação do Código de Processo Penal:

“Art. 798-A. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive, salvo nos seguintes casos:

I - que envolvam réus presos, nos processos vinculados a essas prisões;

II - nos procedimentos regidos pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha);

III - nas medidas consideradas urgentes, mediante despacho fundamentado do juízo competente.

Parágrafo único. Durante o período a que se refere o caput deste artigo, fica vedada a realização de audiências e de sessões de julgamento, salvo nas hipóteses dos incisos I, II e III do caput deste artigo.”

Histórico

O Projeto de Lei nº 5284/2020, que atualizou diversos dispositivos do Estatuto da Advocacia, teve autoria do deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) e recebeu contribuições substantivas dos relatores, o deputado Lafayette de Andrada (REP-MG), na Câmara; e o senador Weverton Rocha (PDT–MA), no Senado; além de outros parlamentares, da Ordem dos Advogados do Brasil, juristas e demais atores do Sistema de Justiça. Aprovados pelas duas Casas, o PL resultou na Lei 14.365/2022, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em 2 de junho.

A Lei 14.365/22 promove mudanças no conteúdo das Leis 8.906/94 (Estatuto da Advocacia) e 13.105/15 (Código de Processo Civil). Modifica também o Decreto-Lei 3.689/41 (Código de Processo Penal). Seu texto inclui disposições sobre a atividade privativa da advocacia, a fiscalização, a competência, as prerrogativas, as sociedades de advogados, o advogado associado, os honorários advocatícios, os limites de impedimentos ao exercício da advocacia e a suspensão de prazo no processo penal.