I Congresso Digital Nacional da OAB reúne mais de 115 mil participantes

Mais de 115 mil pessoas participaram do I Congresso Digital Nacional da OAB, o maior evento jurídico virtual do mundo. Ao longo da semana, foram realizados mais de 160 painéis, com mais de 500 palestrantes participando das discussões, todos de forma voluntária, e com transmissão em tempo real dos debates em seis salas virtuais simultaneamente. O congresso reuniu advogados, magistrados, ministros, jornalistas, especialistas e acadêmicos, em busca de respostas para o mundo pós-pandemia, debatendo as alterações nas atividades profissionais, no mundo jurídico, no meio ambiente, negócios e novas tecnologias.

O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, afirmou que o evento é um marco histórico para a advocacia e mostrou ser possível e viável um novo modelo de atuação, que deve ser ampliado. “Tivemos 115 mil inscritos, ganhamos escala e relevância ao longo da última semana. Tivemos 100 mil citações nas redes sociais no dia de hoje, 90 mil no dia de ontem. Essa é uma realidade que veio para ficar, é insubstituível e aqueles que ousam primeiro, que se colocam na vanguarda, devem ser reconhecidos. É uma enorme honra e satisfação presidir a OAB nessa quadra histórica onde os desafios são grandes, mas a nossa força é invencível. Tivemos um evento plural, debatendo com ex-presidentes, ministros do STJ e do STF, magistrados de todas as instâncias, membros do ministério público e com a advocacia”, afirmou.

O presidente nacional da OAB também disse que os debates deixaram claro que o mundo todo passa por enormes transformações, e a advocacia também terá pela frente enormes obstáculos. Para Felipe Santa Cruz, apesar do imenso desafio, a Ordem está preparada para cumprir a sua missão e cuidar do exercício profissional da advocacia. “A covid-19, além de uma pandemia, é uma transformação radical do mundo. O que será desse mundo depende dos atores, daqueles que estão envolvidos e comprometidos com o debate público. Foi uma semana interminável para os inimigos da advocacia. Os 115 mil participantes, diálogo constante com o Judiciário e intelectuais. Nós prestamos esse serviço a nação nesse momento e fizemos isso de forma voluntária. Acreditamos em uma única coisa: não há reconstrução do mundo e do Brasil sem a participação ativa, corajosa e independente de cada advogada e de cada advogado desse país”, encerrou.

Conferência Magna de Encerramento

A cerimônia contou ainda com a participação do presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, que proferiu a conferência magna de encerramento do congresso com o tema “Garantias para o Exercício da Advocacia no Mundo Digital: Audiências e Julgamentos Virtuais – Vantagens e Desvantagens”, abordando o uso das novas tecnologias e a nova dinâmica das sessões das cortes brasileiras.

João Otávio de Noronha ressaltou que a tecnologia é algo fundamental para enfrentar o momento e manter a atividade no Judiciário. O ministro falou ainda que é preciso melhorar os sistemas e garantir acessibilidade para advocacia e para a população. “A tecnologia da informação é que tem propiciado o funcionamento da justiça, da OAB e do Congresso Nacional. Só vamos obter os êxitos desejados, se os investimentos continuarem daqui para frente, mas me parece importante lembrar também que de nada adianta a tecnologia se não tivermos um trabalho de inclusão digital, inclusive daquelas pessoas que residem nos rincões mais distantes do Brasil”, disse.

O presidente do STJ defendeu ainda um necessário aprimoramento dos meios eletrônicos dos tribunais e das dinâmicas do julgamento virtual, garantindo maior transparência para a advocacia e para a população. O ministro se disse um entusiasta das sessões virtuais, onde existe a possibilidade das sustentações orais por videoconferência, e disse que esse modelo pode ser expandido após a pandemia, em razão do sucesso da experiência.

“No julgamento por videoconferência, você não está a cinco metros do juiz, mas tem uma tela onde você pode ficar vendo todos, com direito de pedir a palavra e de se manifestar. Além disso, tudo fica gravado. O advogado entra na sala e faz pessoalmente a sua sustentação oral, com as mesmas condições como se estivesse em uma sessão presencial. Aí eu já não vejo a quebra das garantias, é a modernidade chegando com segurança. Não vamos suprimir, em um espaço breve de tempo, os julgamentos presenciais, mas vamos nos valer do apoio de algumas sessões virtuais e por videoconferência. E defendo uma maior democratização nos julgamentos virtuais do STJ, com publicidade dos votos. Acredito que o sistema vai mudar brevemente, ficando como o do STF”, afirmou.

Participaram ainda da mesa virtual na cerimônia de encerramento, o secretário-geral da OAB Nacional e coordenador-geral do Congresso Digital, José Alberto Simonetti; a conselheira federal decana e medalha Rui Barbosa, Cléa Carpi Da Rocha; os membros honorários vitalícios da OAB Nacional, Roberto Antônio Busato, Ophir Cavalcante Junior e Claudio Lamachia; o membro honorário vitalício e coordenador científico do Congresso Digital, Marcus Vinicius Furtado Coêlho; o diretor-geral da Escola Superior de Advocacia Nacional e coordenador executivo do Congresso Digital, Ronnie Preus Duarte; a membro da comissão científica do Congresso Digital e conselheira do CNMP, Fernanda Marinela; a presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, Rita Cortez; o coordenador nacional do Colégio de Presidentes de Seccionais da OAB e presidente da OAB-PB, Paulo Maia; o coordenador nacional das Caixas de Assistência dos Advogados, Pedro Alfonsín; o presidente da Comissão Nacional de Defesa da República e da Democracia do Conselho Federal da OAB, Nabor Bulhões; e o presidente da União Ibero-Americana de Faculdades e Associações de Advogados, Carlos Alberto Andreucci.

Congresso tem painéis sobre liberdade de expressão, racismo e violência contra a mulher

O quinto dia do I Congresso Digital Nacional da OAB confirmou seu caráter amplo e transversal ao promover debates de ideias, tendo como ponto de partida as reflexões sobre as repercussões da pandemia no direito e seus impactos na sociedade. Nesta sexta-feira (31), o painel “Liberdade de Expressão e Acesso às Informações” foi conduzido pelo presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, com a participação do advogado e professor, José Roberto de Castro Neves, e dos jornalistas Pedro Bial e Mônica Bérgamo.

Santa Cruz abriu a conversa ressaltando a discussão ampla realizada no congresso. “Pensar esse evento somente pelo prisma jurídico seria de um isolacionismo absurdo. Por isso mentes brilhantes de outras áreas têm nos dado a honra de fomentar o debate amplo. Para falar de liberdade de expressão, dois expoentes do jornalismo contemporâneo foram escolhidos a dedo: esse dínamo que é Mônica Bérgamo e essa referência sensível e poética que é Pedro Bial”, disse Santa Cruz.

O apresentador Pedro Bial apontou que, na discussão das liberdades e do direito de ir e vir, todos os cidadãos têm um pouco de promotor e de réu. “Às vezes são questões prosaicas que garantem o que é o lugar inviolável do indivíduo e o que é o lugar público. É necessário fazer a distinção do que é uma pessoa pública do que é uma pessoa envolvida no poder público. Esta segunda, na minha visão, ocupa uma posição que impõe sua abertura ao escrutínio geral, enquanto a primeira – que se torna pública por sua atividade – suscita em nós a discussão. É difícil estabelecer os parâmetros do que é curiosidade pública do que é interesse público. A liberdade de expressão existe para que o mercado de ideias seja constantemente abastecido de novas ideias, por mais esdrúxulas e ridículas que possam parecer”, afirmou Bial.

A colunista Mônica Be´rgamo indagou sobre os limites do direito de privacidade e do direito à informação na atividade jornalística. “Isso foi muito discutido na recente questão das biografias não autorizadas, que acabaram por ser permitidas aqui no Brasil. Assim como na época da invenção da prensa móvel, a internet surgiu rodeada de boas esperanças. Muita coisa boa se concretizou, é inegável, mas a reboque veio muito dissenso, muita discordância. O discurso da liberdade pode servir para muitas coisas nefastas. Porém, todos os discursos devem ter espaço, até o limite em que não silenciem os discursos dos outros”, disse Bérgamo.

Racismo

O painel “Lugar do Racismo Institucional e do Racismo Estrutural no combate a pandemia do novo coronavi´rus”, reuniu alguns dos maiores especialistas do país no tema, em um debate fundamental para a democracia e para as relações políticas, sociais e jurídicas no país. As discussões foram feitas pelo advogado Adilson Jose Moreira, doutor em Direito Constitucional (Harvard e UFMG); Preto Zezé, presidente global da Central Única das Favelas; e Silvio Luiz de Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama. O conselheiro federal e presidente do ICEDE, André Costa, foi o moderador.

Sílvio Almeida lembrou da história da OAB e do papel que a instituição sempre teve nos debates dos grandes temas do país. Para ele, o mundo pós-pandemia vai exigir novos posicionamentos firmes da entidade e um debate mais intenso acerca de temas como democracia, desigualdade e racismo. “A pandemia nos desafia a pensar os grandes problemas históricos que o Brasil enfrenta e OAB sempre esteve na linha de frente de todas as grandes questões e dos debates políticos da história do país. A questão racial será fundamental para o pós-pandemia e será necessário debater, de forma firme, para que a entidade consiga ser um instrumento de promoção da democracia e se afirme como tal”, afirmou.

Violência contra a mulher

A violência contra a mulher pode ser considerada uma “pandemia dentro da pandemia” segundo as participantes do painel “A violência doméstica contra a mulher na pandemia”. A afirmação pode ser amparada por dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que mostram aumento de 44% no número de denúncias feitas pelo 180 e um aumento médio de 22% no número de feminicídios nesse período.

Para as painelistas, apesar dos avanços nos instrumentos normativos e dispositivos legais para tratar do problema, a resposta foi lenta – uma vez que a Lei 14.022, que dispõe sobre medidas de enfrentamento à violência, só foi sancionada em julho deste ano, quatro meses após o início da crise. “O que temos de mais grave na questão do enfrentamento à violência contra a mulher não é a falta de lei. É uma falta de cultura em relação à importância desse tema. Mas, se é assim, existe uma cultura que podemos mudar”, pontuou a vice-presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada, Alice Bianchini.

Também foram abordadas questões como as dinâmicas de violência contra a mulher negra, a necessidade de mecanismos de controle e educação entre outros. O painel foi moderado pela presidente da Comissão Especial de Igualdade Racial da OAB Nacional, Sílvia Cerqueira. Também participaram do debate a vice-presidente da OAB-PI, Alynne Patrício de Almeida Santos e a presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-SP, Cláudia Patrícia de Luna Silva.

Criatividade

Outro assunto debatido no congresso foi “A crise e´ sinônimo de criatividade para as pessoas de sucesso”. A moderação da explanação foi do conselheiro federal da OAB e corregedor adjunto da OAB Nacional, Luiz Rene Gonçalves do Amaral, e as palestras tiveram à frente o master coach Felipe Lima, o advogado Paulo Nicholas e a especialista em produtividade, Tathiane Dea^ndhela.

O painel debateu as oportunidades que podem surgir durante a crise. “Estamos em um ponto de inflexão nas nossas vidas. Daqui a pouco faremos parte de um capítulo do livro de história. É dentro da crise que aparecem as oportunidades que, muitas vezes, queremos encontrar. É o momento de fortalecer os laços de amizades e da família, de se reinventar. O sucesso e a oportunidade vêm de dentro”, disse Paulo Nicholas, ao mencionar que, para o jovem advogado, esse pode ser o momento de evoluir.

Ao falar sobre produtividade, Tathiane Dea^ndhela contou que, muito embora atualmente escreva livros sobre o assunto, não era uma pessoa produtiva no início da sua carreira, mas passou a se dedicar e melhorar por meio do estudo. “A minha principal fraqueza se tornou a minha maior fortaleza. Temos a liberdade de escolher como vamos reagir independente das circunstâncias”, destacou a autora do livro “Faça o tempo trabalhar para você”.

 

 

Segurança jurídica, pacote anticrime, compliance foram debatidos no último dia de congresso

Os impactos da pandemia na segurança jurídica, as mudanças do processo penal do pacote anticrime, o cumprimento de normas legais dentro dos princípios do compliance, gestão pública foram temas de debates realizados nesta sexta-feira (31), no I Congresso Digital Nacional da OAB que tratou as repercussões jurídicas e sociais da pandemia. 

Segurança jurídica 

O painel “Segurança jurídica nas relações juslaborais e efeitos futuros” trouxe a discussão sobre as mudanças legislativas recentes, em especial com a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil, e como elas afetam a população. Para os palestrantes, as medidas resultam em redução de direitos e precarização do trabalho, acentuando ainda mais a crise que o país vive. 

Para a ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Delaíde Alves Miranda Arantes, as medidas tomadas pelo Governo Federal tendem a acentuar a insegurança jurídica, inclusive pós o fim da pandemia, uma vez que suas consequências incidem, principalmente, sobre as populações mais vulneráveis. “A segurança jurídica antes era associada apenas aos direitos civis e políticos, mas foi estendida ao plano dos direitos sociais, econômicos, culturais, ambientais e do trabalho”, ressaltou a ministra ao afirmar que a pandemia não pode colocar por terra esses aspectos da segurança.

Processo Penal 

O conselheiro federal Rafael Canterji mediou o painel "Mudanças do processo penal do pacote anticrime em meio à pandemia". Participaram do debate o conselheiro federal Gustavo Badaró, que falou sobre o juiz de garantias; a professora da Universidade de São Paulo, Marta Saad, que analisou o acordo de não persecução penal; e o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Sebastião Reis, que tratou da prisão cautelar.

"O pacote tem uma série de questões que são controvertidas, tem um caráter punitivista em determinados aspectos, mas existem outros pontos, e talvez um deles seja a prisão cautelar, em que acho ter havido um grande avanço. O pacote normatizou uma série de questões já postas pela jurisprudência ao longo dos últimos anos. Acho que isso foi positivo", afirmou Reis. Ele chamou a atenção para um cuidado maior na decretação de prisão ao destacar, nesse sentido, o advento da necessidade de fundamentação concreta, o aspecto da contemporaneidade e a possibilidade de revisão dela a cada 90 dias.

O ministro também falou a respeito de pontos relacionados à regulamentação da delação premiada no pacote. "Houve a definição clara da proibição do vazamento, ou seja, nem o juiz pode autorizar o vazamento, não só do acordo de delação como dos documentos que a antecederam. Tem de haver o registro dessa negociação. Existe a possibilidade de um juízo prévio de admissibilidade. Além disso, o próprio fato de a delação ser considerada um início da tarefa de produção de provas e não a prova em si, o que impede a prisão e a denúncia com base exclusiva na delação", disse ele.

Compliance

“Compliance anticorrupção e os desafios em tempos de pandemia” foi o tema do painel que contou com a moderação diretor-geral da ESA de Goiás, Rafael Lara, e a participação da membro do Advisory Board FGV-Ethics, Maria Ceci´lia Andrade; do CEO da T4 Compliance, Matheus Cunha; e da Compliance Officer LATAM, Rogéria Gieremek.

Os palestrantes debateram os grandes desafios durante a pandemia, no que tange ao compliance, ressaltando ser mais necessário agilidade dos trabalhos e rigor no controle das ações. Destacaram a existência de uma lupa em tudo o que está sendo feito, durante a pandemia, por causa da situação de exceção, e que tudo será analisado futuramente, o que evidencia a necessário da adoção de medidas corretas.

Destacaram a necessidade de manter a competitividade da empresa, com a máxima segurança jurídica para os negócios, além da manutenção do treinamento das equipes mesmo durante o período de home office. Segundo os palestrantes, a aplicação das regras do compliance para a realização de doações durante a pandemia são fundamentais para evitar situações de riscos para a empresa.

Gestão Pública

“Desafios da economia e eficiência na gestão pública no po´s-pandemia” foi o assunto do painel que trouxe para o debate o economista Maílson da Nóbrega, a ex-advogada geral da União Grace Mendonça, e o fundador do Instituto Justiça, Luiz Felipe Dias de Souza. O painel foi moderado pelo ex-presidente da OAB Nacional, Marcus Vinicius Furtado Coe^lho.

"A pandemia vai provocar no Brasil a maior recessão da história", afirmou Nóbrega. O economista disse que será necessária uma grande discussão sobre como o Brasil vai recuperar o crescimento. Ele descartou o investimento estatal para retomada em função da Emenda Constitucional do Teto de Gastos, que limitou os gastos do governo. Para Nóbrega, a recuperação dependerá do setor privado e dos marcos regulatórios e que será fundamental a segurança jurídica tanto para o investidor nacional quanto para o estrangeiro. 

Souza descreveu o instituto que ajudou a fundar, como entidade do terceiro setor, de capital privado, com o objetivo de incentivar a solidariedade com eficiência, e salientou a importância do estímulo à solidariedade, ainda mais no contexto da pandemia. A ex-advogada geral da União falou sobre desjudicialização, que se trata do estabelecimento de uma sociedade mais pacífica, mais inclusiva e com desenvolvimento sustentável. De acordo com ela, esse é um dos grandes desafios do Brasil.

Direito do trânsito

Com a pandemia, houve uma redução do movimento no trânsito e, consequentemente de acidentes – chegando a mais de 80% em alguns estados. Esses dados foram divulgados durante o painel “Reflexos sociais da pandemia no Direito do Trânsito”, que discutiu a importância de pensar a legislação como foco na preservação e proteção da vida, reduzindo o número de mortos e feridos no trânsito brasileiro. 

Para os palestrantes, é necessário que as leis ajudem a fomentar novos comportamentos no trânsito, pois só assim os resultados serão reais. O painel foi moderado pelo presidente da Comissão Especial de Direito do Trânsito da OAB Nacional, Armando de Souza, e contou com participação do senador Fabiano Contarato, do deputado federal, Hugo Leal e do presidente do Instituto de Tecnologias para o Trânsito Seguro, Márcio Liberbaum.

O último de congresso contou com a contribuição do presidente da OAB-PB e coordenador do Colégio de Presidentes de Seccionais, Paulo Maia, que moderou o painel “Nova Advocacia Empresarial e do Consumidor pós pandemia”. O membro honorário vitalício, Cézar Britto, presidiu o painel “Avanços Tecnológicos e Humanitários: os Ensinamentos da Pandemia”, que teve o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo, como expositor. Os conselheiros do Conselho Nacional de Justiça Henrique A´vila e Marcos Vinicius Jardim participaram do painel sob mediação do representante da OAB no Conselho Nacional do Ministério Público, Ulisses Rabaneda. O assunto em pauta foi prerrogativas da advocacia.  



 

Conferências abordam temas plurais como federalismo, violência contra a mulher e legislação na pandemia

O último dia do I Congresso Digital Nacional da OAB, nesta sexta-feira (31), deve a participação do presidente nacional da Ordem, Felipe Santa Cruz, que destacou que o evento tem como marca “debates plurais e abertos às grandes questões da reconstrução do país no cenário pós-pandemia, indo muito além de um evento jurídico e envolvendo diversas áreas do conhecimento e da sociedade”. Santa Cruz presidiu a conferência magna que abordou o tema “A revalorização do princípio federativo na pandemia”, proferida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.

Em sua exposição, Lewandowski destacou que o princípio federativo tem passado por uma necessária ressignificação. “Numa perspectiva institucional da própria democracia, o federalismo é um tema central para a cidadania. O STF revigorou a discussão sobre os princípios fundantes do nosso Estado de Direito: o princípio republicano, o democrático e o federativo. Isso foi necessário porque a pandemia descortinou antagonismos sociais intensos, além das deficiências nas diferentes formas de governar. Por isso, compreender a importância do federalismo e respeitar seus pressupostos é fundamental para darmos um passo adiante nesse momento”, apontou.

O ministro traçou uma linha histórica da evolução das ideias que antecederam e deram origem ao federalismo ao longo de todas as sete constituições que nortearam o Brasil, de 1824 a 1988. “Os cidadãos, hoje, devem uma submissão republicana aos governos federal, estadual e local, colocando em prática a noção maior de um Estado Federal composto. Nossa federação nasceu sob o signo de um pecado original: não foi gerada da união de estados soberanos, mas do desmembramento de um poder unitário. Isso explica o fato de muitos Estados ficarem de chapéu na mão em relação ao Governo Federal”, explicou Lewandowski.

Violência contra a mulher

A Conferência Magna “Resiliência e violência contra a mulher na história do Brasil” teve à frente a historiadora Mary Del Priore, com a moderação da conselheira federal da OAB, Cláudia Sabino. A conferencista iniciou a explanação, lembrando que as mulheres não são só vítimas, mas protagonistas da história.

Em seguida, fez um apanhado sobre a origem do patriarcalismo, da relação entre homens e mulheres e sobre a histórica da posição da mulher, envolvida com a reprodução familiar, e do homem, voltado ao sustento da família.

Priore lembrou que “não se pode compreender a mulher e nem a violência contra ela, se não estudarmos os homens. A existência delas é relacional, seja em relação à família, ao trabalho, a outras mulheres, inclusive à violência de mulheres contra mulheres, que também é muito grande e precisa ser estudada”, destacou.

“O patriarcalismo está em crise”, disse a historiadora que lembrou ainda sobre a importância de, neste atual momento, “não acusar e não fazer do homem o grande inimigo. Temos que buscar soluções de diálogo e não só acabarmos com o patriarcalismo, mas sobretudo para melhorarmos como cidadãos e seres humanos e, assim, caminharmos em busca de um progresso de uma sociedade mais pacífica e menos desigual”.

Legislação e advocacia

A deputada federal e ex-conselheira federal da OAB, Margarete Coêlho, foi a convidada para conduzir a conversa “Legislação e advocacia em tempos de crise”. Ela falou sobre como a produção do Legislativo – que tem atuado em diversas frentes desde a violência doméstica até questões contratuais – tem sido fundamental para amparar os cidadãos nesse momento. A palestra encerrou a sequência de conferências magnas desse último dia de congresso, e foi mediada pelo conselheiro federal da OAB, Helder José Freitas de Lima Ferreira.

Para a deputada, o Legislativo deu uma resposta rápida e assumiu um papel protagonista no enfrentamento da crise. Em especial, destacou a criação de um orçamento separado para o enfrentamento da pandemia, facilitando sua execução e ao mesmo tempo garantindo regras de transparência.

Margarete Coêlho frisou que essas medidas são temporárias. “Essas providências foram extremamente necessárias e oportunas. Mas é necessário deixar sempre muito claro que essa é uma legislação extravagante e extraordinária, especificamente para esse período de pandemia do covid-19. Minha preocupação é muito grande com as sequelas que essas novas legislações poderiam, e podem, deixar no arcabouço jurídico pré-existente”, ponderou. Segundo ela, é preciso criar legislações permanentes capazes de enfrentar esses momentos sem grandes atropelos.